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Número 21
May, 2022
Literatura Brasileña

Telas e textos: cinco poetas de Minas Gerais

  • por Ana Elisa Ribeiro

Nota do editor: Este ensaio está disponível exclusivamente em português e inglês. Clique aqui para ler em inglês.


 

Convite e provocação

No começo de abril de 2021, momento em que o Brasil se tornou o epicentro da pandemia no mundo, as artes tentavam sobreviver não apenas ao vírus que assolava o planeta e às dificuldades econômicas e sociais decorrentes do problema, mas também aos ataques de um governo central negacionista e avesso à ciência, em especial inimigo das humanidades e das artes. Com muito esforço e sem mínimas condições de produção, artistas dos campos da música, da dança, do teatro e da literatura inventavam modos de atuar, de encontrar suas plateias e oferecer poesia, canção, peças e o que mais fosse possível, com as mediações viáveis para a circunstância.

Lives e mais lives foram anunciadas; espetáculos de dança e de teatro em mosaicos de telas, em novas experiências de produção e imersão; shows de música, da apresentação solo à orquestra, ocupavam telas de poucas polegadas; poetas e prosadores falavam e liam em encontros pelas redes sociais.

Foi nesse contexto de mediações improvisadas e saídas criativas – e compulsórias – que recebi o convite do Galpão Cine Horto, na pessoa do diretor, ator e gestor cultural Chico Pelúcio, para fazer a curadoria de poetas e poemas para uma série de vídeos do canal do Galpão no YouTube. O Galpão é um dos maiores e mais respeitados grupos de teatro do Brasil, e o Galpão Cine Horto é um espaço cultural consolidado e importante na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, na região Sudeste do país.

A nova série de vídeos é intitulada Verso e Voz e apresenta poetas de Minas Gerais na voz de atrizes e atores do Galpão, em vídeos de cerca de cinco minutos, a depender da extensão dos textos. Minha tarefa seria, então, numa segunda temporada do Verso e Voz, selecionar cinco poetas mineiras, todas mulheres, que cederiam cinco poemas a serem falados por membros do grupo teatral.

 

Curadoria e coragem

A produção poética mineira é densa, consistente, regular e intensa. É impossível tratar da história literária brasileira sem passar por escolas e autores mineiros de relevo, pelo menos desde o século XVIII. A quantidade de autoras foi, com o tempo, aumentando, em decorrência de um processo histórico relacionado à luta feminina e feminista. Contemporaneamente, um incontável número de poetas mulheres escreve e publica em todo o país, sendo de Minas Gerais alguns dos nomes mais representativos da poesia atual, como é o caso de Ana Martins Marques, uma das poetas contempladas pelas leituras do Verso e Voz, na primeira temporada do canal do Galpão Cine Horto.

Minha tarefa de curadora era, então, pesquisar as mulheres atuantes na poesia mineira, selecionando cinco delas e seus poemas, que seriam cedidos ao grupo de teatro para a produção de mais uma temporada da série de vídeos. Entre o recitar e o dizer, as leituras poéticas ocorrem conforme a interpretação de cada ator ou atriz envolvido no projeto, o que fugia à minha alçada de curadora. Minha seleção contemplava a etapa anterior, isto é, a difícil tarefa de escolher, entre tantas poetas em atividade no estado de Minas Gerais, apenas cinco que pudessem, de alguma forma, representar uma poesia mineira pulsante e diversa.

 

Cinco incontornáveis de muitas, incontáveis

Em que consiste a curadoria literária? Os parâmetros dados interferem nas escolhas, claro, mas em que medida é possível propor, subverter ou acomodar propostas e novas visões da cena?

Não é exatamente difícil escolher nomes conhecidos para um projeto literário. Os nomes em evidência estão postos, oferecem pouca resistência, estão acomodados ao esperado e ao previsível. Desse ponto de vista, uma curadoria não demanda tanto trabalho. Eventos como feiras, festivais, mesas-redondas e outros ocorrem inúmeras vezes ao ano, em várias partes do país, sem trazer exatamente novidades nos elencos. Se a proposta for pinçar entre as autoras as mais conhecidas, as que publicam por grandes editoras, cujo poder de marketing não encontra concorrentes, a tarefa exige relativamente pouco.

No entanto, pareceu-me que a tarefa fosse outra. A questão colocada foi algo como dar voz e espaço a autoras que produzem boa poesia, diversa na dicção e no manejo da linguagem, mas que nem sempre estão em evidência. Dessas há muitas, incontáveis, e aí o trabalho de curadoria se transforma em uma verdadeira investigação, que demanda tempos de pesquisa, leitura e seleção, de fato. Além desse aspecto técnico, relacionado à produção poética em si de cada autora, era ainda interessante, embora não fosse obrigatório, pensar uma distribuição geográfica menos concentrada na capital do estado, assim como revisar livros eventualmente publicados por editoras pequenas, de distribuição limitada, e mesmo em revistas eletrônicas.

As vozes poéticas dessas mulheres deveriam soar em uníssono? Que dicções poéticas seriam essas? Quanto mais diversas melhor? E que relação isso tem com a geografia, a faixa etária, a orientação sexual ou a cor dessas escritoras? Sob essa reflexão, deslizaríamos facilmente para o debate sobre “critérios extraliterários”, argumento dos que tendem a manter o estabelecido. Em todo caso, mesmo considerando todas essas importantes variáveis, algum primeiro parâmetro deveria adiantar-se na cena, e foi, de fato, a produção poética dessas escritoras.

 

Cinco poetas e suas vozes

Depois da pesquisa em sites especializados, revistas literárias ativas, páginas de editoras independentes e livros impressos, cheguei a cinco mulheres cujas produções poéticas se destacam numa cena literária abaixo da superfície, isto é, um horizonte que exige certo mergulho na fervilhante vaga da poesia contemporânea que quase não consegue chegar ao mainstream. Com isso quero dizer que todas elas publicam livros por editoras de pequeno porte, são relativamente ativas nas redes sociais, participam de festivais e antologias no Brasil e no exterior, em muitos casos, com traduções. Não raro, estão envolvidas em mais que sua própria produção, fazendo parte de coletivos e projetos em que atuam também como editoras, curadoras ou organizadoras. As poetas sugeridas ao Galpão Cine Horto e cujos vídeos logo estarão no ar são as mineiras (em ordem de nascimento): Líria Porto, Ana Caetano, Adriane Garcia, Nívea Sabino e Ana C Moura.

O que aproxima essas escritoras, além de terem nascido nas Minas Gerais e de serem poetas, é sua voz poética contemporânea, viva, que participa da mesma peça, embora nem sempre nas mesmas microcenas. Para além de seus versos, suas práticas e suas atitudes as aproximam e distanciam, conforme as observamos em ação. Adriane Garcia e Nívea Sabino, por exemplo, embora sejam de gerações diferentes e produzam poesias de diferentes DNAs, têm de semelhante o uso da palavra dita, falada, engajada e engajadora, corajosa e não raro em tom de manifesto, esta mais do que aquela. Líria Porto, a mais velha das elencadas, se concentra no escrito, nos livros que reúnem poemas não raro em tom irônico, de forte matiz feminista, a meu ver não panfletário. Neste aspecto, está alinhada a Nívea e Adriane. Ana Caetano, cientista de formação, militante da literatura há várias décadas, faz lembrar a poesia de mimeógrafo de décadas passadas, sem perder um viço de quem faz poesia agora. E o agora mais radical ficou com a jovem Ana C Moura, ainda nem publicada em livro, mas ativa participante de coletivos poéticos a oeste do estado de Minas Gerais, tecendo conexões com todo o país por meio do portal Fazia Poesia, onde se publica.

Essas cinco mulheres, autoras de uma poesia persistente e forte, diversas em suas origens, orientações sexuais, cores, idades e ativismos, formam um conjunto de criadoras literárias que considerei a ponta de um iceberg que infelizmente nem sempre pode ser avistado por leitores e leitoras menos afeitos à pesquisa e ao mergulho abaixo da linha do óbvio ou do evidente. Digo isso sem demérito algum para autores e autoras que se mantêm numa faixa de alta visibilidade, mas esses e essas são poucos, e dão apenas vaga ideia do que se produz noutras órbitas da literatura brasileira hoje. Além do que, sabemos, a generosidade não é uma condição frequente nesse campo, como de resto não é mesmo entre os humanos, em condições normais de temperatura e pressão.

Foto: Praça Raul Soares, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Luiz Felipe S.C., Unsplash.
  • Ana Elisa Ribeiro

Ana Elisa Ribeiro (Belo Horizonte, 1975) has written short story collections, books of chronicles, children’s books, young adult books, and verse collections. Her most recent works are Álbum (Relicário, 2018, winner of the Manaus national prize) and Dicionário de Imprecisões (Impressões de Minas, 2019), finalist for the 2020 Jabuti Prize. She writes chronicles for the magazines Digestivo Cultural and Pessoa, as well as the newspaper Rascunho. She holds a doctorate in linguistics and is a professor at the Federal Center for Technological Education of Minas Gerais.

  • Christian Elguera
christianelguera

Christian Elguera is a Lecturer in Spanish at The University of Oklahoma and a visiting professor at Universidad Nacional Mayor de San Marcos (Lima, Peru). He has a PhD in Iberian and Latin American Languages and Literatures from The University of Texas at Austin. His research is concerned with the production and circulation of cultural translations by and about Amerindian peoples from the 16th century to present in Abiayala, particularly in Andean and Amazonian areas. His forthcoming monograph, Traducciones territoriales: defensoras y defensores de tierras indígenas en Perú y Brasil, analyzes poems, chronicles, radio programs, and paintings enacted by Quechua, Munduruku, Yanomami, and Ticuna subjects in order to defy the dispossessions, extermination, and ecocides promoted by the Peruvian and Brazilian States. Alongside his political interest in the struggles of Indigenous Nations, he researches the relationship between Marxism and the Peruvian Avant-Garde Poetry of the 1920s and 1930s. In this regard, he will publish the book El marxismo gótico de Xavier Abril: decadencia y revolución transnacional en El autómata (Ediciones MYL, 2021).

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Actualizado: 20/06/2022 16:00:00
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