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Número 32
Literatura Indígena

“Retomada ancestral” y “Matriarcal Cunhã”

  • por Renata Machado Tupinambá
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  • December, 2024

Nota del editor: Publicamos los siguientes textos en el portugués original y en traducción al español y al inglés. Desplázate hacia abajo para leer en portugués y español, y haz click en “English” para leer en inglés.

 

Retomada originária 

Vamos falar a verdadeira história
Que os colonizadores escondem
Nas estátuas erguidas por todo Brasil
A pátria que não nos pariu.
Carrego a memória de um povo
As muitas vozes dos meus avós
Meu destino é ser onça?
Vivo e respiro com meus antepassados
Os velhos retornam para cumprir seus destinos
Da Amazônia ao Pará,
Do Pará a Salvador,
De Ilhéus ao Rio de Janeiro
Por todo litoral
Somos tuba ypy abá
Somos Tumpinambá
Os Primeiros
Uma grande família do tronco Tupi
Prazer me chamam de Aracy
Sou Ara Tykyra do clã de Maria Laurinda da Conceição,
Morta com uma bala no peito
Na nossa pele dizem que mestiçagem pode ser um defeito
Recebemos muitos nomes ao longo da caminhada
Em busca de uma Terra Sem Males
Os verdadeiros heróis foram esquartejados
E até em paredes seus ossos cimentados
No cai eu vi pretos novos
Jovens trazidos de longe que nunca mais viram suas famílias de novo
Fizeram de todos os povos originários objetos do mundo novo
Fetiche de antropólogos, missionários e romancistas
Hoje apenas o currículo lattes dos grandes especialistas
No porão da ditadura
Guardam segredos
Os sete pecados do indigenismo
Guardam segredos
Os sete pecados do indigenismo
De extermínios, roubos, estupros, mortes e torturas,
Daqueles que não tiveram medo.
Embaixo e em cima dos concretos
Vozes desejam liberdade
Mas alguns religiosos agem com iniquidade
Apesar da idade
O sono é apenas dos justos.
A insônia é dos mutilados
A terra geme um grito abafado
As paredes são muros de pele e ossos.
O que os políticos querem é comprar os seus votos
O crochê deles é feito com pedaços de muitos corpos
Assassinados
Pelo legislativo, judiciário e executivo
Do Brasil A pátria que não nos pariu.
Abro a mordaça
Rasgo a couraça
Quebro o concreto
Tenho fome de essência
Faço da cultura minha ciência
Nossa raiz é resistência e identidade
Voz um caminho para a liberdade.

 

Retomada ancestral

Vamos a hablar de la verdadera historia
Que los colonizadores esconden
En las estatuas levantadas por todo Brasil
La patria que no nos parió.
Tengo conmigo la memoria de un pueblo,
Las múltiples voces de mis abuelos
¿Es mi destino ser onça?
Vivo y respiro con mis antepasados
Los ancestros retornan para cumplir su destino
De la Amazonia hasta Pará,
De Pará al Salvador,
De Ilhéus hacia Rio de Janeiro
Por todo el litoral
Somos tuba ypy abá
Somos Tupinambá
Los primeros
Una gran família del tronco Tupi
Sou Ara Tykyra del clan de Maria Laurinda da Conceição,
Muerta con una bala en el pecho
Dicen que en nuestra piel el mestizaje puede ser un defecto
Recibimos muchos nombres a lo largo del camino
En busca de la tierra sin males
Los verdaderos héroes fueron mutilados
Y hasta en paredes sus huesos fueron arrumados
En el puerto vi a jovenes negros recién llegados
Traídos desde lejos y que nunca más verán a sus familias de nuevo
Hicieron de todos los pueblos originarios objetos del nuevo mundo
Fetiche de antropólogos, misioneros y novelistas.
Hoy apenas el curriculum Lattes de grandes especialistas
En el depósito de la dictadura
Guardan secretos
Los siete pecados del indigenismo
Del Servicio de Des-Protección del Indio
Encontrado en el reporte Figueiredo
De exterminios, robos, violaciones, muertes y torturas,
en contra de pueblos que no tuvieron miedo.
Debajo y arriba de los edificios
Voces claman libertad
Pero algunos religiosos se comportan injustamente
A pesar de la edad
El sueño es solo para los justos.
El insomnio es para los mutilados
La tierra gime un grito sofocado
Las paredes son muros de piel y huesos.
Los políticos quiere comprar sus votos
Su croché está hecho con pedazos de muchos cuerpos
Asesinados
Por los poderes legislativo, judicial y ejecutivo
De Brasil
La patria que no nos parió.
Abro la mordaza
Rasgo la coraza
Quiebro el concreto
Tengo hambre de esencia
Hago de la cultura mi ciencia
Nuestra raíz es resistencia e identidad
Suena un camino hacia la libertad.

Publicado originalmente en Poesia indígena hoje, Nro. 1, 2020

 

 

 

Matriarcal cunhã

Voces acham que me podem ver?
Voces acham que me pdoem ver?
Sou penumbra
luminosidade
o canto do povo e sua liberdade
na mão carrago afetividade
sou sangue que jorra da rua, fazenda e comunidade
seu coração sangra de mentira
o meu é morto todos os dias e renace
não sou a índia potyra
sou Aratykyra
então pode atirar
uma arma na minha cabeça
não foi capaz de me matar
eu disse atira, atira
não importa quantas vezes eu tombar
sempre vou retornar
sou as marcas da violência
sou as cicatrizes de viver
sou o espelho de justicia da terra
não da igreja

sou tempestade que vai destruir o concreto
e os frios olhares da cidade
não sou o sono dos justos
não durmo
sobrevivo por todos prisioneiros do afeto
sou todos que sentem dor, amor, raiva, compaixão
sou quem caça os senhores de escravos
sou todos que que queiman e explodem nos cemitérios
clandestinos na omissão
exterminam e comem gente viva
acham que podem costurar o tamanho da ferida?
esperam que sejamos passivas, calmas, calmas, obedientes,
silenciosas

mulheres não são humanas
sao onças, serpentes, águias

eu sou um animal não domesticado
não faço o que querem
sou devota do que desejo

difícil de seduzir ou induzir
eu teço a teia dos sonhos
sou uma guardadora de sementes
árvore antiga de pé
ainda Aracy, mãe do dia, do amanhecer dos pássaros
sou a fé que carregam no peito, para cantar, gozar e
sentir
eu compartilho encantaria
é preciso saber me invocar
para fazer o mundo como conhece desabar
eu estou fora do tempo
não tenho tempo
tenho uma faca apontada para meus olhos

 

Matriarcal Cunhã1

¿Ustedes creen que pueden verme?
¿Ustedes creen que pueden verme?
Soy penumbra
Luminosidad
El canto del pueblo y su libertad
Soy sangre que emana de las calles, la hacienda, la comunidad
Tu corazón sangra de mentira
El mío muere todos los días y renace
No soy la india Potyra
Entonces puedes disparar
Un arma en mi cabeza
No fuiste capaz de matarme
Yo dije dispara, dispara
No importa cuantas veces caiga
Siempre volveré
Soy las marcas de la violencia
Soy las cicatrices de la vida
Soy espejo de justicia de la tierra
Y no de la iglesia

Soy la tempestad que va a destruir el concreto
Y esas miradas frías de la ciudad
No soy el sueño de los justos
No duermo
Sobrevivo por todos los prisioneros del afecto
Soy todos quienes sienten dolor, amor, rabia, compasión
Soy quien caza a los esclavistas
Soy todos los que incendian y explotan los cementerios
Clandestinos de la omisión
Exterminan y comen gente viva
¿Creen que pueden zurcir el tamaño de esta herida?
Esperan que seamos pasivas, calmadas, obedientes,
Silenciosas

Las mujeres no son humanas
Son onças, serpientes, águilas

Yo soy un animal no domesticado
No hago lo que quieren
Soy devota de mi deseo

Difícil de seducir o persuadir
Yo tengo la tela de los sueños
Soy cuidadora de semillas
Árbol antiguo de pie
Todavía Aracy, madre del día, amanecer de los pájaros
Soy la fe que llevan en el pecho, para cantar, gozar
Y sentir
Yo comparto los encantos
Es necesario saberme invocar
Para el mundo tal como lo conoces derribar
Estoy fuera del tiempo
No tengo tiempo
Tengo un cuchillo apuntando hacia mis ojos

Del libro As 29 poetas hoje, edición de Heloísa Teixeira (Companhia das Letras, 2021)
1 En lengua Tupí, “Cunhã” significa “mujer indígena”.
Traducido del portugués al español por Christian Elguera

 

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Foto: Mauro Lima, Unsplash.
  • Renata Machado Tupinambá

Renata Machado Tupinambá was born in Niterói/Rio de Janeiro (Brazil). Her Tupi name is Aratykyra. The founder of Originárias Produções, she is a journalist, screenwriter, curator, poet, and multidisciplinary artist. Since 2005, she has worked to share indigenous cultures with pioneering projects in ethno-communications, music, arts, and film, among other media. She has published poetic texts in various anthologies, such as Heloísa Teixeira’s As 29 poetas hoje, as well as sound poetry and dub poetry. In 2019, she co-created and curated Brazil’s first festival of contemporary indigenous music. She was also associate curator of the MASP for the Histórias Indígenas exhibition. She researches indigenous knowledge and philosophies and has worked on initiatives such as Acessibilindígena. She created the “Originárias” series and forms part of the Rede Audiovisual de Mulheres Indígenas Katarine. She is also part of the Útero Amotara Zabelê, a human development lab on Tupinambá land in Bahia. She is the general director of Guanabara Pyranga, a cultural exchange program between people of different nations and origins for the preservation of memory and the appreciation of histories and cultures.

  • Christian Elguera Olortegui

Christian Elguera Olortegui (1987) was born and raised in Lima, the capital city of Peru. However, he recognizes his family roots in Tingo María (a Peruvian Amazonian town in the province of Huanuco). He earned a bachelor’s degree in Literature from the Universidad Nacional Mayor de San Marcos and holds a PhD in Iberian and Latin American Languages and Literatures from the University of Texas at Austin. He also completed a Graduate Portfolio in the program in Native American and Indigenous Studies at this institution. Currently, Christian is an Assistant Professor of Spanish and Latin American Studies at Marist College and, since 2021, he has been a translator and Indigenous Literature correspondent for Latin American Literature Today (LALT). As a creative writer, he has received literary accolades in Peru, such as an honorable mention in the XXI Biennial Copé Short Story Award for his text “El extraño caso del señor Panizza” (2020), the Copé Silver Award for his short story “El último sortilegio de Fernando Pessoa” (2022), and the Copé Gold Award for his first novel, Los espectros (2023). 

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