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Reencantando o mundo com a literatura indígena
A história oficial e a literatura brasileira têm produzido e reproduzido o silêncio e a estereotipização dos povos originários. São tantas as tentativas de calar as nossas vozes que falar em literatura indígena, em pleno século XXI, chega a causar comichão nos ouvidos de muitos teóricos, que impavidamente cultuam os cânones da literatura no Brasil.
Nossas memórias nos conectam com os nossos antepassados, e possibilitam que as nossas expressões em convergência com os sinais da ancestralidade, e assim interagimos com a sociedade do entorno, muitas vezes ressignificando e atualizando conhecimentos e práticas nas nossas comunidades, mantendo a fronteira dos nossos pertencimentos, os quais estão atrelados a outros tempos; ao tempo imemorial, ao tempo das nossas cosmologias.
A literatura que produzimos tem suas especificidades. Quem escreve a literatura indígena já se encontrou com sua ancestralidade originária e consegue “fazer o papel falar”, como dizia o pai da líder Valdelice Veron, indígena pertencente ao povo Guarani Kaiowá. É uma escrita espiritualmente posicionada e está vinculada aos saberes dos nossos antepassados.
Acredito que a literatura que os escritores indígenas produzem colabora de forma significativa para dimensionarmos a vida no planeta, para depurarmos os rastros de escombros deixados pela racionalidade humana —que põe em risco a continuidade da vida no planeta—. Usamos as mesmas ferramentas: canetas, papéis, computadores e a escrita na língua portuguesa (além da escrita nas línguas originárias), realizando um movimento em favor do reencantamento das relações socioambientais, em favor da superação da crise que assola a comunidade mundial.
É importante ressaltar que durante séculos a escrita e a língua portuguesa foram impostas aos nossos povos de forma violenta, sem considerar nossos conhecimentos, línguas e espiritualidades próprias. Missionários e currículos escolares invadiram nossos espaços com os discursos de salvar almas e civilizar, e o resultado foi o desaprendizado, a expropriação, a extinção de línguas e saberes.
A produção da literatura indígena é um desafio para nós, indígenas. Tanto por ser uma forma de escrita questionada por muitos acadêmicos atualmente, quanto pelo fato de termos que transformar conhecimentos advindos da oralidade, historicamente desprezados e endemonizados, em textos escritos.
Mais do que apenas escrever, projetamos que nossa literatura colabore no repensar do antropocentrismo, das ações da racionalidade humana e da ideia de progresso levada a cabo pela comunidade mundial. O projeto humano de desenvolvimento gerou uma situação em que as pessoas e grupos sociais caminhassem para uma situação de absoluto desencantamento e crise, agravada ainda mais pela ambição, pelas vaidades e pela busca do poder a qualquer preço. Diga-se que esse comportamento civilizatório vem desumanizando os nossos povos, rotulando-nos historicamente de seres sem alma, infiéis, preguiçosos, mentirosos, bárbaros e inimigos do progresso.
Desde que os invasores pisaram nesse território sagrado, que para nós são os “jardins sagrados herdados por nossos antepassados”, como diz o líder Ailton Krenak, resistir para existir é o que tem movido gerações, uma após a outra, e na nossa geração não é diferente.
A escritora indígena Eliane Potiguara, nos ensina que devemos “florescer em meio ao lixo”. Ensinamentos como este, é o que não nos deixa paralisar ou sucumbir. E pensando na trajetória de crises da humanidade, florescer no meio do lixo é um dos fundamentos da literatura indígena nos dias de hoje.
No ato de escrever, estamos atentos a certas armadilhas, como as deixadas por um certo romantismo literário brasileiro, que romantiza nossas memórias históricas e transforma a nossa gente em sujeitos passivos diante da violência colonizadora. A nós não interessa romantizar nossas histórias e memórias, mas sim, expressar nossas angústias, dores, demandas, avanços, conquistas e alegrias. Mais uma vez evocamos a escrita de Eliane Potiguara, que bem expressa a escrita literária a que nos reportamos:
Ó mulher, vem cá
que fizeram do teu falar?
Ó mulher conta aí…
Conta aí da tua trouxa
Fala das barras sujas
dos teus calos na mão
O que te faz viver, mulher?
Bota aí o teu armamento.
Diz aí o que te faz calar…
Ah! Mulher enganada
Quem diria que tu sabias falar!
Estamos aqui, afirmando que somos a continuidade de Iracema, a guerreira Tabajara que o romantismo de José de Alencar domesticou e colocou a serviço da dominação, matando-a de paixão pelo colonizador ao fim de sua rebuscada narrativa, marcada fortemente pela apologia aos ideais colonizadores.
Em nome de Moema, a índia morta, que nunca morrerá; de Iracema e de tantas outras guerreiras e guerreiros que tombaram, cumpriremos a tarefa que nos foi conferida pelo mundo invisível. É essa força que nos energiza para seguirmos a caminhada regando a terra, ainda que nossos vastos territórios tenham sido expropriados para construir uma nação sobre os nossos cemitérios.
Mesmo com tantas histórias de atrocidades, a literatura que escrevemos é um evidente sinal de que temos disposição para dialogar, colaborando na reconstrução de tudo o que foi destruído em nome do progresso. Produzimos uma literatura que pode auxiliar os leitores a conhecer e sentir a leveza de uma memória ancestral, comprometida com a vida em todas as suas dimensões —seres humanos, rios, montanhas, vegetais, animais e os espíritos da floresta—. Nossa literatura se manifesta prioritariamente pela oralidade, e se desdobra de diversas formas como danças, grafismos, cantorias, denúncias, lamentos, alegrias, angústias, afetos e escritas, entre outras manifestações.
Portanto, a literatura indígena é uma voz de continuidade à luta dos nossos antepassados, mostrando ao mundo que outras formas e modos de organização social são possíveis, que é possível e necessário viver bem com menos.
Ainda que nos rotulem de “falsos índios”, por ressignificamos a escola, a universidade, a literatura e tantas outras instituições, seguiremos firmes, certos de que romperemos com as barreiras postas pela colonialidade e pelo racismo estrutural e institucional que quer se perpetuar, e caminharemos no rumo de nossas microrrevoluções, inclusive na literatura.
Vale atestar que um grande avanço para a visibilidade e audibilidade dos nossos povos foi a Lei 11.645/08, que estabelece a obrigatoriedade do estudo/ ensino da cultura e história afrobrasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino. Neste contexto, a literatura indígena é um dos principais instrumentos para a implementação da referida lei.
É oportuno destacar o artigo 231 da constituição federal de 1988, que estabelece os direitos originários:
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
A constituição tornou-se um importante instrumento para nós, à medida que reconheceu a nossa existência e dos nossos direitos. Por um breve momento nos enchemos de esperanças, imaginando que as coisas poderiam ser diferentes de um passado de pagamentos e opressão, porém, desde a data da sua promulgação o que temos visto são relampejos de aplicabilidade, em que as formalidades e burocracias dificultam os avanços dos nossos direitos dentro e fora das aldeias.
O desafio colocado para a nossa literatura é fazer com que nossas memórias históricas e saberes alcancem a sociedade brasileira, e que mesmo feridos pelo racismo estrutural, possamos realizar diálogos e interações que possam auxiliar na construção da igualdade social que deverá observar e respeitar a diversidade sociolinguística dos nossos povos.
O momento em que vivemos é de falar. Antes tínhamos que ser discretos e fazer silêncio para vivermos, hoje podemos, não queremos e nem temos mais condições ancestrais de continuar sem expor os nossos projetos societários, pois a alma grita e ecoa. A literatura indígena tem sido a caixa de ressonância nesse rumo, e o que escrevemos é o espelho das nossas memórias coletivas.
A nossa luta prioritária não é para que sejamos incluídos ou integrados nas academias de letras. Primeiramente, essas palavras “inclusão” e “integração” causam o que os odontologistas chamam de bruxismo, ranger dos dentes. Nós indígenas, jamais seremos integrados, pois se nos integrarmos à sociedade nacional, nos desintegraremos da nossa sociedade originária e vice-versa. O que propomos é a interação, pois, quando interagimos conseguimos compartilhar o que é nosso e absorver o que é do outro sem deixar de lado os nossos pertencimentos originários.
Frequentemente desanimamos diante de tantos desafios e portas que se fecham, mas quando olhamos ao nosso entorno, pessoas entendendo a importância de cuidar de nossa majestosa Mãe Terra, e se propondo a romper com o passado de opressão, expropriação, exploração e devastação, somos nutridos e motivadas a continuar a jornada.
Outro exemplo que nos inspira vem das anciãs, dos curandeiros, das parteiras, das benzedeiras e das lideranças. São pessoas que como as crianças, conversam com os espíritos, falam com os animais e com as plantas. Muitos acham que as plantas não falam, que bobos, afinal de contas, como nossas curandeiras iriam saber os mistérios da cura se não conversassem com as nossas irmãs plantas?
A literatura indígena é isso, nós ouvimos os mais velhos, os sábios, observamos a dinâmica da floresta, o curso dos rios e dos animais. Aprendemos que não precisamos nos tornar o que não somos para que possamos interagir com as outras literaturas e com a sociedade nacional.
Os mais velhos contam nas aldeias que por séculos, os nossos antepassados tiveram que negar os seu pertencimento, línguas, tradições e espiritualidades, tudo em nome do que o Estado chama de “integração”. A consequência disso foi o extermínio de povos e aldeias inteiras, muitas das quais ressurgindo com força total nos dias de hoje, fazendo o “caminho de volta”.
Eu mesma (Aline Kayapó), que não sou mais uma “crionça” e também não sou uma anciã, já tive várias experiências com essa interação. Certa vez, estava pedindo para que o grande Condor me trouxesse um nome para que nós, um grupo de indígenas-mulheres, pudéssemos nomear o nosso movimento- uma rede ancestral-filosófica que criamos. Foi então que no mesmo momento uma grande ventania abriu a porta da cozinha de casa e falou comigo. Ela disse:
—Ngrenh, você me chamou e eu estou aqui, me chamo ventania, você pode me chamar de Wayra.
Hoje esse é o nome do nosso movimento de indígenas-mulheres: Wayra, que significa ventania, na língua Aymara- povo do qual sou descendente.
Outra vez, uma planta falou comigo, era uma árvore de cuieira. Nesse tempo eu queria muito engravidar e disse para ela:
—Um dia vou dar frutos igual a senhora e minha barriga vai ser bem redonda parecida com suas cuias.
Respondeu a Cuieira:
—Fale com sua avó Dalmira, ela vai te dizer o que conversamos tempos atrás e você saberá o remédio para se curar.
Então fechei os olhos e a Wayra trouxe até mim uma mensagem, que uso como rezo e benzimento. Nomeei o rezo com o nome de Cuieira, que diz assim:
Cuieira
Nossa mãe
Poder gerador da vida
Útero divino
Minha mãe
Majestosa Mãe Terra
Que nos ensina sobre aparências…
Muitas vezes enganosas
De fel, vira mel
Curandeira sagrada
O que não tem serventia, faz ter
Do enfeite traz a cura
Do miolo traz o sumo
E o sumo que é fel
Sem água
vira mel
Mel que cura.
Miolo misterioso
O fogo transforma
De branco amargoso
Em preto saboroso.
Manchas não pode ter
A cura não tem máculas
Três Luas é o tempo
Que precisa
O útero da filha
Para a mãe curar…
Louvado seja, Metindjwynh!
Mejkumrex minha Mãe Terra!
A literatura indígena é formada por mensagens cosmológicas e está viva. Não é um prato que se come frio, nem se esfriou com o tempo. Ela é o ontem, o agora e o amanhã.
A literatura indígena é quentinha e se renova todas as manhãs como o sol, e tem aquecido as nossas almas, corpos e espíritos. Ela é a wayra, que traz em sua rede nossas irmãs pássaras reencantando as manhãs. A literatura indígena não é um papel pardo, criado pelo estado, escondido na gaveta e ofuscado pelo tempo, nem um papel branco que se apropriou das memórias de outros povos, ela é a alegria da existência de povos que cantam a vitória da existência, tornando mais colorida e encantadas a vida de quem quiser!
Re-Enchanting the World with Indigenous Literature
The official history and the literature of Brazil have produced and reproduced silences and stereotypes surrounding indigenous peoples. There have been so many attempts to stifle our voices that to speak of indigenous literature in the twenty-first century triggers an itch in the ears of many theorists, who impassibly idolize the canons of Brazilian literature.
Our memories connect us to our ancestors and allow our expression to come together with the markers of our identity. In this way, we interact with the society that surrounds us, often lending new meaning to and renewing our communities’ knowledge and practices, holding firm the borders of that which belongs to us and is linked to other times, to time immemorial, the time of our cosmologies.
The literature we produce has its particularities. One who writes indigenous literature has come into contact with their original ancestrality and can “make the paper speak,” in the words of the father of Valdelice Veron, of the Guaraní Kaiowá people. This writing is spiritually positioned and is linked to the ways of our ancestors.
The literature produced by indigenous writers makes a significant contribution to positioning our life in the world, to cleaning up the ruins left by human rationality, which endangers the continuity of life on this planet. We use the same tools: pencils, paper, computers, and Portuguese-language writing (as well as writing in indigenous languages), making an effort to attain the re-enchantment of socio-environmental relationships, to overcome the crisis that is now devastating the global community.
It is important to emphasize the fact that, for centuries, Portuguese writing and the Portuguese language were violently imposed upon our peoples, not taking into account our own ways, languages, and spiritualities. Missionaries and school curricula invaded our spaces with the discourse of civilizing and saving souls. The result was un-learning, expropriation, the extinction of our languages and knowledge.
For us, the indigenous, literary production is a challenge. This is because our way of writing is currently called into question by many academics, and also because of the need to transform knowledge belonging to orality, historically scorned and demonized in written texts.
But, more than just writing, we seek for our literature to collaborate in the effort to rethink anthropocentrism, the actions of human rationality, and the idea of progress fostered on a global scale. The human project of development has given rise to a situation in which people and social groups advance down a path of absolute disenchantment and crisis, exacerbated by ambition, vanities, and the pursuit of power at any cost. It is important to make clear that this ostensibly civilizing conduct has dehumanized our peoples, classifying us historically as soulless, idolatrous, lazy, lying, and primitive beings, and as enemies of progress.
The invaders reached our ancestral lands, which are for us the “sacred gardens we inherited from our ancestors,” in the words of indigenous leader Ailton Krenak. Since that invasion, the cause of resistance for existence has inspired many generations, one after another. Our present generation is not indifferent to this struggle.
Indigenous writer Eliane Potiguara teaches us we must “bloom amid the ruins.” Teachings like this one keep us from being defeated or becoming paralyzed. And, thinking of the trajectory of the current crisis of humanity, blooming amid the ruins is one of the central pillars of indigenous literature today.
While we write, we pay close attention to certain traps, like the ones laid by Brazilian literary romanticism, which distorted our historical memories and transformed our peoples into passive subjects to the violence of colonization. We seek not to romanticize our histories and memories, but to express our anxieties, pains, critiques, advances, victories, and joys. Once again, we recall the work of Eliane Potiguara, who expresses precisely the type of literature to which we refer:
Come here, woman,
What did they do to your voice?
Tell me, woman
Tell me now of your defeats
Speak of the dirty bars
Of the calluses on your hand
What makes you live, woman?
Let your armor fall
Tell me what makes you fall silent
Oh! Misled woman,
Who would have thought you know how to speak.
We are here, affirming that we are the continuity of Iracema, of the woman warrior Tabajara, whom the romantic José de Alencar domesticated and put at the service of domination. At the end of his high-flown narration, Alencar has her die of love for the invader, glaringly influenced by an apologetics of colonizing rationality.
In the name of Moena, the dead native woman who will never die; of Iracema and so many other murdered warriors, women and men, we will fulfill the task the invisible world has delegated to us. This is the force that drives us to continue down the path, fertilizing the earth, even while our lands have been expropriated in order to build a nation on our graves.
Despite so many stories of atrocities, the literature we write is a clear sign that we are willing to engage in dialogue, collaborating in the reconstruction of all that which was destroyed in the name of progress. We produce a literature that can help readers know and feel the delicacy of an ancestral memory, committed to life in all its dimensions: human beings, rivers, mountains, plants, animals, and the spirits of the forest. Our literature is manifested, first and foremost, through orality, and it unfolds in diverse expressions as dances, graphics, songs, critiques, laments, joys, anxieties, feelings, and writings, among other forms.
Therefore, indigenous literature is a voice of continuity in our ancestors’ struggle, showing the world that other forms and modes of social organization are possible—that it is possible and necessary to live well with less.
They call us “fake Indians” for having given new meaning to the school, the university, the literary system, and so many other institutions. In spite of this, we will carry on with our heads held high, certain that we will break down any obstacle placed in our way by coloniality and the structural, institutional racism it seeks to perpetuate. We will walk down the path of our micro-revolutions, even in literature.
It must be specified that an important advancement in making our peoples visible and audible was Law 11.645/08. This law establishes that it is obligatory to study and teach the history and culture of indigenous and Afro-Brazilian peoples in education centers. Indigenous literature is one of the main instruments for implementing this ruling.
It is also fitting to highlight article 231 of the federal constitution of 1988, which establishes ancestral rights:
Art. 231. The social organization, customs, languages, creeds and traditions of Indians are recognized, as well as their original rights to the lands they traditionally occupy. The Union [the Brazilian state] has the responsibility to delineate these lands and to protect and ensure respect for all their property.
This constitution became an important instrument for us, as it recognized our existence and our rights. For a brief moment, we swelled with hope, imagining things could be different from a past of silencing and oppression. Nonetheless, since the date of its promulgation, we have seen only scraps of legality, while formalities and bureaucratic acts make the advancement of our rights, both within and outside the village, impossible.
The challenge taken up by our literature is the challenge of succeeding in reaching society with our memories and our ways. While we have been wounded by acts of racial violence, we want to produce dialogues and interactions that might contribute to the construction of a social justice that includes and respects our peoples’ sociolinguistic diversity.
We are living at a moment of speech. Before, we had to stay discreet and keep quiet in order to live. Today, in order to move forward with our ancestrality, we must make known our social projects, for the soul cries out and echoes. Indigenous literature has been the sounding board along this path, and what we write is a reflection of our collective memories.
Our struggle is not to be included or integrated into the lettered academies. In the first place, these words—“inclusion,” “integration”—produce what odongolists call bruxism, grinding one’s teeth. We, the indigenous, will never be integrated; if we integrate into national society, we separate ourselves from our original culture, and vice versa. What we propose is interaction, since when we interact, we manage to share what is ours and absorb what is of the other without forgetting that we belong to our own peoples.
We often lose heart, faced with so many challenges and closing doors. Nonetheless, we fill ourselves up with energy and we get on with the day’s work every time we listen around us, when we listen to the people who understand the importance of taking care of our majestic Mother Earth, with the firm purpose of breaking up our history of oppression, dispossession, exploitation, and devastation.
Another example that inspires us comes from the elder women, the medicine men, the midwives, those who bless us, the head women and head men. They are people who—like children—converse with the spirits, talk with the animals and plants. Many believe plants do not speak, but how foolish they are: in the end, how could our medicine women know the mysteries of how to heal if they couldn’t talk with our sister plants?
Indigenous literature is just that: we listen to the voices of the eldest, of the wise, we watch the movement of the forest, the swaying of the river and the animals. We learn that we need not be that which we are not simply in order to interact with other literatures and with national society.
In the villages, the eldest tell how for years our ancestors had to deny their origins, languages, traditions, and spiritualities, all in the name of what the State called “integration.” As a consequence, whole towns and villages were exterminated, many of which are now resurging with great strength, walking down “the way back.”
The person writing these lines (Aline Kayapó), who is no longer a “little girl” and not an elder either, has already had many experiences with this sort of interaction. Once, I was asking the great Condor to give me a name by which to call our movement—a philosophical-ancestral network we created with a group of indigenous women. Then, at that very moment, a gust of wind opened the kitchen door and spoke to me. The gust said:
“Ngrenh, you called me and I am here. I am called Gust and you can call me Wayra.”
Today, this is the name of our movement of indigenous women: Wayra, which means gust or strong wind in the Aymara language: the language of my ancestors.
Another time, a plant spoke to me. It was a cuieira, a calabash tree. At that time, I very much wanted to be pregnant, and I said to the plant:
“One day I am going to bear fruit like you, and my belly will be big and round like your gourds.”
The cuieira answered:
“Talk to your grandmother Dalmira, she will tell you what we talked about long ago, and you will know the medicine to make you better.”
Then I closed my eyes and Wayra brought a message to me, which I use as a prayer and a blessing. I gave this prayer the name of the cuieira, and it goes like this:
Cuieira
Mother of ours
Power making life
Divine womb
Mother of mine
Powerful Mother Earth
Who teaches us about appearances…
Which so often deceive:
From bile grows honey
Sacred medicine woman
What doesn’t work becomes useful
From the ornament you bring the cure
From the core you bring the juice
And the juice, which is bitter,
Without water
becomes honey
Curing honey.
Mysterious food
The fire that transforms
From bitter white
To delicious dark.
It can have no stains
The cure has no blemishes.
The daughter’s womb
Needs
Three moons’ time
For the mother’s cure
Praise be to you, Metindjwynh!
Mejkumrex, my Mother Earth!
Indigenous literature is made up of cosmological messages, and it is alive. It is not a dish to be eaten cold, nor does it cool down over time. Indigenous literature is yesterday, it is now, and it is the future.
Indigenous literature is warm. It is renewed every morning like the sun and it brings zeal to our souls, bodies, and spirits. She is Wayra, and in her net she brings our sister birds to re-enchant new days. Indigenous literature is not a dull, gray page, created by the state, hidden away in a writing desk and withered with time. Nor is it a blank page to be filled by appropriating the memories of other cultures. Indigenous literature is the joy of existing, the joy of the peoples who sing life’s victory, making existence all the more colorful and magical for all those who so wish.
Translated via the Spanish by Arthur Malcolm Dixon