Editor’s Note: This poem is available to read in the original Portuguese and in translation to Spanish and English. Scroll down to read in English, and click here to read in Spanish.
Ária para ouvir depois da pandemia
I
aroma de flor
como aroma de vinho &
coisas que têm aroma:
jasmim repisado na grama
exalando perfume
depois de mortos,
tal não ocorre aos humanos:
adoecidos de fé e cansaço,
tornam-se estrelas,
como mentem as avós às crianças
II
itens que faltam nesta casa:
leite desnatado
maçãs fugi
sabão em pó
água sanitária
achocolatado doce
pão integral
sal
as visitas & seus abraços
III
imagens aéreas de cemitérios
e suas centenas de covas abertas
equidistantes quase iguais
ainda vazias abertas famintas
imagens aéreas repetem-se na tevê
e são como avisos recados
notícias alertas sustos pesadelos
sem epitáfios nem obituários
dezenas de covas à espera
IV
os velhos já são velhos – podem morrer
vamos lamentar por alguns dias,
mas logo nos acostumaremos à
ausência de seus pesos e de suas dificuldades
os jovens ainda são jovens – não devem morrer
precisam conter seus impulsos e
seguir imperfeitamente as recomendações da OMS
para que os adultos – nem velhos nem jovens –
continuem a sustentar as urgências de todos
os ignorantes são ignorantes – deveriam morrer
de doenças inteligentes e seletivas
que preferissem os irresponsáveis e os inconsequentes
a seus velhos e seus jovens amedrontados e vulneráveis
estão entre os ignorantes, às vezes, os maus presidentes
e seus séquitos de genocidas, travestidos de médicos sérios
e honoráveis cientistas políticos, filósofos e economistas,
mostrando números e argumentos desafiadores
a mentirem ordenadamente para velhos e jovens em choque
Aria to Listen To After the Pandemic
I
flower scent
like wine scent and
things that are scented
jasmine sunk in the grass
exhaling perfume
after they are dead,
such does not occur to humans
sick with faith and tiredness
they become stars
like grandmas lie to their children
II
missing items in this house
skim milk
Fuji apples
laundry detergent
bleach
sweet cocoa powder
whole grain bread
salt
guests and their hugs
III
aerial images of cemeteries
and their hundreds of open pits
equidistant almost equal
still empty open hungry
aerial images repeat on tv
and are like warning messages
news alerts scares nightmares
without epitaphs or obituaries
dozens of pits waiting
IV
the old are already old—they might die
we’ll mourn for a few days
but soon we will get used to the
absence of their burdens and their difficulties
young people are still young—they shouldn’t die
they need to contain their impulses and
imperfectly follow the WHO’s recommendations
so that adults—neither old nor young—
can continue to support the urgent needs of all
the ignorant are ignorant—they should die
of smart and selective diseases
that would prefer the irresponsible, inconsequential ones
to their old ones and their frightened and vulnerable young ones
sometimes the bad presidents are among the ignorant
and their hordes of the genocidal, dressed as serious doctors
and honorable political scientists, philosophers and economists,
showing challenging numbers and arguments
lying neatly to old ones and young ones in shock
Translated by Gabriela Tumani
Gabriela Tumani is an international student at the University of Oklahoma from São Paulo, Brazil, currently in her sophomore year. She is majoring in journalism and minoring in international studies, and works as a news reporter for the OU Daily.