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Motivo não ceciliano
Canto porque a vida é incompleta.
De espantar o pranto a velha receita
bênção e salvação de poeta.
Lembrando Rimbaud
Clamo aos céus força
para gritar o meu não
com o auge do pulmão.
Por covarde delicadeza
não quero perder a vida.
Mistério
Recorro ao método de Descartes
dividindo o problema em partes.
Pego então a palavra mistério
e desagrego-lhe os fonemas
um a um, qual pétalas de flor.
M i s t é r i o
Restam-me questões menores
e não desvendo nenhuma.
Continuo sem saber se trevas
são a incompetência do olhar
ou a parca luz das estrelas.
Fases da lua
Li Po errou ao declarar que os homens
jamais conseguiriam apanhar a lua.
(Trouxeram até areia de lá)
Li Po acertou ao dizer: os homens
de hoje não veem mais a lua de outrora.
(Não pela inconstância de seu esplendor
e sim pela mudança de nosso olhar)
Algo se sabe do agora e do ontem.
Do futuro há de se indagar tudo.
No meio do caminho
No meio de nosso caminho
tinha também uma pedra.
Não a pedra do poeta
verbal abstrata alegórica.
Tinha, sim, uma pedra renal
concreta crônica sólida.
Tinha uma pedra plural:
extraída uma, outra surgia.
Nunca esqueceremos
o lar mudado em hospital.
Dentro do corpo tinha um cálculo
obstáculo à união carnal.
Tinha uma pedra no caminho
do paraíso real.