[sem título]
uma vez uma voz me disse
a sua poesia desce rasgada
parece caco de vidro
achei estranho
era um insulto ou um gracejo
aos meus estilhaços
que mal tem ter mãos escorregadias
que de vez em quando
quebram um prato
derramam uns verbos
derrubam um corpo
aí eu disse
bebe mais um gole
dessa cachaça deitada na mesa
e repete o que disse
agora com a garganta
ardendo um pouco mais.
[sin título]
Cierta vez una voz me dice
Tu poesía cae en piezas rasgadas
Parece los añicos de un cristal
Encontré esto muy extraño
Era un insulto o una alabanza
A mis esquirlas estallando
Qué mal hay en tener manos resbaladizas
Que de cuando en cuando
Quiebran un plato
Derraman unos verbos
Derrumban un cuerpo
Ahí yo dije
Bebe otro sorbo
De esa cachaça puesta en la mesa
Y respete lo que dice
Ahora con la garganta
que va ardiendo un poco más.
Poema de Ana C Moura, traducido por Christian Elguera
Selección de Ana Elisa Ribeiro
sujeição
lá vai o trem igual cobra
carrega pobres no lombo
lavai a roupa senhora
essa fuligem é de ontem
a vida passa e os pobres
sentem a dureza do jugo
sem ouro prata ou vitórias
o que lhes sobra
ferrugem
opresión
Allá va el tren cual cobra
Carga a los pobres en el lomo
Lava la ropa, señora,
Esa suciedad es de ayer
La vida pasa y los pobres
Sienten la dureza del néctar
Sin oro plata o victorias
Lo que les sobra
Herrumbre
Poema de Líria Porto, traducido por Christian Elguera
Selección de Ana Elisa Ribeiro
Líria Porto (Araguari, 1945) lives in the city of Araxá (Minas Gerais, Brazil). She has published numerous books and been a finalist for many Brazilian literary awards. Her most recent publication is Quem tem pena de passarinho é passarinho (Peirópolis, 2021).
Ana C Moura was born in 1988 and lives in the city of Uberlândia (Minas Gerais State, Brazil). She is a poet and one of the editors of Fazia Poesia, a platform that publishes contemporary writers.
Photo: Alameda Travessia-Funcionários, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. Luiz Felipe S.C., Unsplash.